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14:14 - 17/10/2023
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
A próxima década do Pivô começa na Bahia
O Pivô Salvador

O Pivô acaba de completar dez anos. Durante todo esse tempo, nos empenhamos em criar condições e alternativas possíveis para fomentar o pensamento crítico e a produção artística contemporânea, sempre levando em conta sua complexidade.

Centenas de artistas trabalharam em nosso espaço em São Paulo ao longo da última década e são esses mesmos artistas com suas múltiplas perspectivas e contextos de origem que nunca nos deixaram demasiadamente confortáveis dentro de nossas próprias estruturas institucionais. Em outras palavras, seguimos inquietas, repensando nossas atividades e verificando o alcance e a atualidade de nossa missão.

Tenho me interessado cada vez mais pela ideia de “decrescimento”, ou degrowth no jargão teórico. Muitos teóricos e artistas têm pensado sobre o pós-extrativismo e em alternativas ao modelo de desenvolvimento vigente que, nas últimas décadas, contribuiu consideravelmente para as crescentes desigualdades sociais, sobretudo em países ditos periféricos, além das catástrofes ecológicas cada vez mais comuns e visíveis no mundo todo. Levado isso em conta, qual é o sentido de abrir um novo espaço em outra cidade agora?

O programa do Pivô surgiu de situações e encontros desde a sua origem, e neste caso não é diferente. Assim como o espaço em São Paulo, nosso novo endereço em Salvador é resultado de um encontro afortunado com seres incríveis, vivos e não vivos. A casa do Boulevard Suisso, em seus noventa anos de existência, foi palco de diversas manifestações culturais e berço de muitas ideias e encontros. É uma nova casa para o Pivô, mas sempre foi um lugar significativo para os muitos que vieram antes de nós. Trabalhar em espaços neutros (se é que existem…) nunca foi o nosso forte. Este novo capítulo da instituição, nasce a partir do contato com uma cena cultural vibrante e que continua persistindo e florescendo apesar das tantas adversidades que a ela se impõem. Uma cena cultural que sempre nos entusiasmou muito e com a qual esperamos aprender e colaborar de maneira significativa.

Pegando emprestado as palavras da teórica cultural australiana McKenzie Wark: se entendermos que estamos vivendo em ruínas, logo podemos compreender que não podemos nos apoiar em uma tradição de conhecimento determinada, intacta, e sobretudo, que se dá em um tempo homogêneo. Sendo assim, o que temos hoje são simultaneamente fragmentos de um passado e de futuros possíveis. Esta nova iniciativa não é uma expansão, mas sim uma fragmentação. Um caminho que se abre através de metodologias e ideias compartilhadas. Ao reconhecer tempos, histórias e experiências múltiplas, planejamos reativar uma casa que já é singular em sua vocação cultural e criar espaços livres para experimentação, criação artística e fomento de movimentos e ideias contra-hegemônicas. O formato do programa se mostrará à medida que colocamos as coisas em movimento.

Neste momento, a única certeza é que partiremos de uma abordagem transdisciplinar.  A partir do nosso histórico na arte contemporânea, pretendemos estabelecer formas de colaboração intelectual, organizacional, afetiva e do trabalho integrado para encontrar um caminho coletivo em tempos instáveis. Os futuros sonhados hoje são, na verdade, os futuros que ainda podem ser possíveis. Eu desconfio que ao estabelecer um novo ponto de encontro em um contexto e em um ritmo radicalmente diferentes, encontraremos potentes novos caminhos para o trabalho que temos feito desde que o Pivô abriu suas portas. A próxima década do Pivô começa na Bahia.

Fernanda Brenner

Diretora artística

Sobre a casa

Boulevard Suiço, ou a casa do Boulevard, situada em Nazaré – Salvador, é um importante marco histórico da cidade. Construída em 1934, um projeto do pintor baiano Presciliano Silva e do arquiteto Lycério Schreiner. Inspirada na vivência do pintor na França durante os anos da Belle Époque, a peculiar arquitetura da casa é um assunto em si, sobretudo o ateliê, que tem como referência o espaço de trabalho de Paul Cézanne no sul da França. O artista viveu 31 anos na casa, com sua companheira, a pianista e cantora lírica Alice Moniz e a filha do casal, a atriz Maria Moniz, que ainda vive no local.

Histórico cultural

Ao longo das décadas de 30, 40 e 50, a casa foi palco de diversos encontros e eventos culturais, reunindo artistas e intelectuais renomados. Saraus lítero-musicais preenchiam o espaço. A casa tornou-se um ponto de referência na cena cultural da época, proporcionando um ambiente para o intercâmbio de ideias e o florescimento da arte.

Nos anos 60, a casa do Boulevard ganhou destaque ao receber artistas como Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia entre outros. A varanda da casa se tornou um cenário emblemático, onde esses artistas se reuniam para compartilhar música, poesia e visões de mundo. Esses encontros contribuíram para o surgimento da Tropicália e do Cinema Novo, movimentos que revolucionaram a cultura brasileira.

A história da casa do Boulevard se estende até os anos 80, quando o espaço se transformou em Atelier Bar, espaço underground, marco na cena musical baiana, com apresentações de Blues e Jazz. Nos  anos 2000, o espaço abrigou uma exposição imersiva e foi cenário de filme. 

Atualmente, a casa do Boulevard continua a desempenhar um papel relevante na cena cultural de Salvador. Por meio de exposições, filmagens e eventos, ela mantém sua relevância e deixa uma marca indelével na memória de todos que a conhecem. A casa do Boulevard é um símbolo vivo da criatividade, inovação e rica história cultural da cidade.

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