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19:31 - 17/10/2023
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
Rafael Segatto: crescer como Exu plantado em terras de Oquê

Vou começar pedindo licença. A quem veio antes e a quem virá. Aos mais velhos e aos mais novos. E a Exu pela possibilidade de poder construir formas através das palavras.

 

Esse texto eu acho que é um texto onde eu decido retomá-lo para demarcar um território. E esse território eu acho que é o meu próprio corpo, que é também uma ilha, que é também um peixe, que é também um barco. Tantas possibilidades que me habitam, me atravessam e essencialmente me constituem.

Tem gente que investiga a ação do tempo.

 

Aquilo que acontece com a gente todos os dias e só reparamos ao longo do tempo, de uma duração. Mas o que eu estou à procura chamarei de tempo primeiro ou tempo zero ou tempo sétimo. Aquilo que vem antes de tudo e depois também. Ou agora.

 

A marcação do compasso. A lida cotidiana com as questões que nos atravessam e não vemos. Esse tempo – e os tantos outros que podem caber nele, devido à sua elasticidade – é da ordem da existência. É uma força. Algo que se correlaciona ao todo. Aquilo que permeia e, portanto, age. Antes de mais nada, aquilo que é.

 

Nesse sentido, ele não pode ser um devir.

 

É.

 

O tempo é fruto de uma constância. De uma permanência.

 

O entendimento do tempo enquanto algo que é enquanto está.

 

E falar sobre isso me remete aos aprendizados que tenho tido com o mar e com Renato Santos sobre o equilíbrio ser o caos. Porque é isso que kalunga tem me ensinado.

 

Os movimentos. Uma aparente calmaria. As transformações. A lua. São águas que movem tudo, inclusive o nosso próprio corpo.

 

Ter esses entendimentos me fazem lembrar do dia que eu achei que não fosse mais voltar, e como, naquele momento, eu lembrei do meu pai me dizendo que o mar apontava caminhos.

 

O equilíbrio, então, não é linear. E acho que a gente já sabe disso há muito tempo. E acho também que falar sobre uma linearidade é querer circunscrever a uma certa história que já está escrita, e a gente já sabe que ela tem fim.

 

Por isso, mais do que a possibilidade de ser lento ou ser acelerado, o equilíbrio talvez possa ser a gente saber quando acelera e quando desacelera. Afinal, rápido e devagar são nomes diferentes para uma mesma força.

Como pedir para um corpo, que não é um corpo branco, desacelerar quando está tudo acontecendo. Como frear o que não se pode frear?

 

Eu tenho acreditado que a paciência é uma conduta quando a chance de errar não nos é dada. Então é preciso que a gente saiba, no meio disso tudo, como o mundo se impõe diante de nós. E esse movimento de ser paciente é necessário porque essa flecha precisa ser certeira. Talvez eu não tenha a chance de ter duas flechas. Talvez a paciência seja a forma que me mantenha e que me conduza a essa vivência nessa presença de agora. E falar sobre tudo isso é abrir muitos caminhos e todos eles são encruzilhadas.

Rafael Segatto, 2021

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