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19:37 - 17/10/2023
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
Pivô entrevista aarea
Marcela e Livia, fundadoras do aarea.co, foram as curadoras convidadas para coordenar o primeiro ciclo do Pivô Pesquisa. Foto: Mari Caldas.

No início do ano, o Pivô anunciou mudanças em seu programa de residências: a partir de 2020, o Pivô Pesquisa passa a ser realizado de forma integralmente gratuita para seus participantes, que recebem acompanhamento crítico contínuo de curadores convidados pela instituição a cada ciclo. Livia Benedetti e Marcela Vieira, criadoras da plataforma digital aarea.co, foram convidadas para coordenar o primeiro ciclo do ano (entre 10 de março e 01 de junho). Poucos dias após a recepção dos residentes, a pandemia de Covid-19 fez com que o Pivô suspendesse todas as suas atividades públicas e o programa de residências teve de ser quase que inteiramente repensado para o ambiente digital.

 

Leo Felipe: Em meio a tantos infortúnios (adiamento de projetos, fechamento do espaço, cancelamento de atividades) parece um golpe de sorte o Pivô ter convidado duas curadoras cuja pesquisa se desenvolve justamente no ambiente virtual. Como surgiu o interesse em explorar a internet como meio para a prática curatorial?

 

aarea: Explorar as implicações da arte na internet surgiu como um interesse para nós ao identificarmos que, no Brasil, havia uma separação bastante marcada entre o meio da arte geral e a cena de “novas mídias”, ou “arte e tecnologia” (com seus próprios artistas, teóricos, curadores e espaços). O aarea busca convocar artistas e agentes das mais diversas produções e pensamentos a se debruçar sobre a internet, fazendo dela mais um dos meios possíveis de produção, difusão e circulação de obras. A ausência de fronteiras geográficas nos interessa e nos traz mais flexibilidade para trabalhar com artistas, curadores e instituições de outras localidades.

 

LF: O Pivô Pesquisa é um programa bastante estabelecido, que existe desde 2013 e tem como característica fundamental o convívio entre artistas e curadores em seu espaço no Copan. Quais os principais desafios para traduzir a residência do espaço físico para o ambiente virtual? E por outro lado, o que o programa pode ganhar com essa tradução?

 

a: O fato de o Pivô estar enraizado no centro de São Paulo e, mais especificamente, ter se institucionalizado a partir da ocupação do espaço físico no Copan, torna sua programação bastante orientada ao seu espaço, porém é também uma instituição que acolhe produções diversificadas, especialmente no programa de residências. Desenvolver um programa de residência online para Pivô carrega muitas possibilidades inéditas, como o convite a interlocutores e colaboradores de outras partes do Brasil ou do mundo, para discussões e trocas com os residentes, em uma programação que também se abre ao amplo público que a internet pode alcançar. Os artistas residentes toparam nosso desafio de passar parte do trabalho de ateliê para a internet, pesquisando, dialogando, ou mesmo pensando novos trabalhos para esse meio (vale ressaltar que, como costuma acontecer nas residências do Pivô, não há nenhuma cobrança para que se formalize novos trabalhos nesse período). Juntos, estamos nos esforçando para nos configurarmos como “grupo”: a convivência casual que o espaço de ateliês do Pivô proporcionava exige um empenho extra quando se transpõe para a internet, e, para isso, temos usado diversos aplicativos de conferência, compartilhamento, mensagem, playlists, etc. Sentimos que tem sido importante para todos nós trabalharmos coletivamente neste momento de isolamento e solidão imposto pela pandemia.

 

LF: Como se deu o processo seletivo para a residência?

 

a: Quando o Pivô nos convidou para o acompanhamento curatorial da residência, já havia uma lista dos 13 residentes selecionados, para os quais planejamos uma série de atividades coletivas e individuais tanto no espaço físico quanto online. Logo na primeira semana da residência, a pandemia do Covid-19 mudou o cenário muito rapidamente em São Paulo e, como estamos atuando há três anos na internet, em questão de dias adaptamos todo o programa para o virtual. Metade do grupo original aderiu e, para completarmos a turma, convidamos alguns artistas a se juntar, artistas que temos acompanhado e cujas práticas sabíamos que poderiam ser trabalhadas também à distância, neste momento de exceção que estamos vivendo em 2020.

 

 

LF: O que está sendo previsto de programação e de que forma ela se dará?

 

a: Apesar de acontecer remotamente, a programação será bastante “presencial”, com muitas reuniões e encontros ao vivo, em grupo e individualmente, convidando também pessoas de fora do programa para conversar com os artistas. Esse ciclo de residência vai ocupar bastante as mídias sociais do Pivô, com proposições dos próprios residentes – junto aos artistas, vamos pensar em como transpor suas pesquisas para a internet.

 

LF: É especialmente interessante que o aarea se molda a cada projeto, sem menus, informações adicionais. Além disso, vocês trabalham com artistas que não têm necessariamente a internet como pesquisa. 

 

a: O aarea dá “carta branca” aos artistas para que ocupem todo espaço do site com um projeto inédito, pensado para a internet. A cada edição, o aarea se torna uma obra de arte diferente – não há links, textos, logo, arquivo. E são as propostas dos artistas que apontam o que é o aarea, para onde ele vai, como ele se relaciona com a internet e com a arte. Os artistas do aarea não costumam trabalhar com internet em suas práticas e, para isso, contamos com nosso consultor de tecnologia e programação, o Adriano Ferrari, que viabiliza os trabalhos a partir de ferramentas as mais diversas. Essa fase da concepção do trabalho, entre artista, curadoras e programador costuma ser muito estreita e bastante rica em trocas. Também contamos com os designers Cate Bloise e Victor Kenji e a produção audiovisual de Mafe Simonsen – é sempre importante falarmos de nossos colaboradores, no caso de um projeto que tem se bancado sozinho até aqui e não conta com nenhum recurso financeiro de terceiros, salvo em projetos pontuais em que realizamos parcerias com outras instituições (como CCA Wattis Institute, Salón Nacional de Bogotá, SP-Arte, entre outros).

 

LF: O aarea se aproxima de sua 30 edição, que será realizada por Jac Leirner, que nunca havia feito um trabalho para a internet. Contem-nos um pouco sobre o trabalho.

 

a: Estamos em fase de produção e é uma imensa honra ter a Jac Leirner conosco, desde o início do aarea queríamos convidá-la. Ela tem sido muito generosa nesse processo e extremamente precisa no deslocamento de seu trabalho para a internet. Esse trabalho parte de fotografias que Jac vem colecionando há mais de três anos, e vai ser a primeira vez que esse arquivo gera um trabalho. É também a primeira vez que ela faz uma obra para ser veiculada em uma tela (de computador ou vídeo), e estamos muito felizes que ela topou fazer com a gente este desdobramento inédito dentro de sua produção.

 

LF: A pandemia do Covid-19 já está afetando de forma contundente as relações sociais e de trabalho. Nesse novo cenário, a área da cultura parece ser particularmente afetada. Na opinião de vocês, qual será o impacto do coronavírus no campo da arte?

 

a: Estamos aqui respondendo a essas questões há apenas duas semanas do Covid-19 ter sido decretado uma pandemia mundial pela OMS e, portanto, ainda é cedo para esboçar qualquer análise. O que temos acompanhado é que em questão de dias surgiram diversas iniciativas digitais de instituições e agentes muitos distintos, que apontam para interesses específicos. É interessante presenciar como estão deslocando suas identidades e programas para internet. A situação de confinamento e espaços físicos fechados por tempo indeterminado corrobora o que o aarea já vinha fazendo: considerar a internet como mais um dos espaços possíveis para a arte. Se havia algum tabu relacionado a isso, está caindo agora mesmo.

 

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