Aqui as imagens contam histórias da minha própria metamorfose, a exposição do efêmero em mitologia inventiva de um sujeito. Um registro da máscara como animação de uma marginália sagrada.
Uma investigação em torno do ato de fotografar a existência, assimilando sentidos ancestrais e contemporâneos da fé, em uma mistura livre de qualquer purismo. Fotografias resultantes de performances, ou da minha própria relação com a câmera.
Há um tensionamento que gosto de provocar quando por hora encarno buda e em outras utilizo dos búzios em referência aos orixás, por exemplo. Há uma mistura que me antecede, como fenômeno do eu manifestado nestes encontros, contradições e sincretismos no ponto de ebulição do século XXI.
Quando penso no passado, me deparo com um apagamento histórico chamado Brasil. Essa falta é também de caráter imagético. Há uma discrepância nas narrativas, principalmente aquelas ligadas aos corpos que ainda seguem em diáspora*. Assim, eu, um corpo resultante do projeto de embranquecimento e evangelização colonial, me revolto e questiono todo um sistema de crenças e culturas.
Me reconheço na estranheza. Encontro o sublime num grotesco transmorfo, um bixo-bixa em sua caricata experiência, uma deidade sem contorno definido, incapturável mito. Um exu-mirim que é o caminho e o próprio movimento. Uma pulsão de auto-reconhecimento e embaralhamento de definições.
Na aparição há uma entidade de rito, uma essência mascarada. Presença essa que extrapola o humanismo, e nasce como aberração de qualquer orientação linear, sendo a transfiguração em si como o espírito do tempo que gira.
* “Corpos que descendem de pindorama de etnia não identificada continuam em diáspora” (Caetano Costa)
DUDX