existe um tempo de suspensão em uma caminhada que nos coloca disponíveis para desviar o olhar de cima para baixo. há quem ande olhando sempre pra onde se pisa, há quem mire o céu como estrada maior que se preenche através de vários olhos que brilham, comumente chamados de estrelas. formadas por poeira e radiação, as estrelas, poderiam ser um desenho espelhado dos seres que se movem na terra. nossas estruturas se aglutinam ou desmancham mostrando que não existe uma distância tão discrepante entre o céu e a terra.

tal compreensão se faz necessária para diluir camadas entre escrita, desenho, a arte e o caminhar. como quem rabisca um livro, exercitei traçar com areia, encanto maior que se aglutina e também se desmancha na construção das cidades e também das estrelas como poeira cósmica. dei lugar a invenção para me permitir realocar todo esses grãos e microorganismo que passeiam pelo ar urbano, também fora dele, para a retomada de uma escritura que também edifica morada, mas que se distingue dos prédios monumentais ou da rigidez do solo cimentado que nos ilude ao ponto de quase consegui falar que ele é que demarca a distância do céu e da terra.

desenhando feitiço com os pés nasce no exercício de diluição de fronteiras que partem desde o nomear até as demarcações ferinas a quem se desloca, as instituições de violências que partem da subjugação do outro e da soberania das formas sobre os encantos. a própria retiradas das rosas da terra e seu comércio que as cultivadas sem espinhos, descaracterizando suas defesas para uma romantizam da vida.

Registros: Thiego Montiel

Ariana Nuala, 2021