O Pivô, a Frieze e o Camden Council realizaram uma parceria em dois tempos: em São Paulo, paralelamente à Bienal, disponibilizaram uma plataforma de discussão sobre a recente influência do campo da micologia nas artes visuais, no contexto do projeto Mycorial Theatre. A segunda etapa se dá em Londres, onde apresentam a exposição coletiva “Riso e Lágrima Não Têm Sotaque”, com os artistas Daniel Albuquerque, Cibelle Cavalli Bastos e Lenora de Barros ,produzida pelo Pivô, com curadoria de Fernanda Brenner. A mostra já está em cartaz na Swiss Cottage Art Gallery, administrada pelo Camden Council.

A parceria também prevê o lançamento de uma publicação, editada por Maria do Carmo Pontes.

A mostra coletiva “Riso e Lágrima Não Têm Sotaque” reúne obras dos três artistas brasileiros, que refletem acerca da linguagem do corpo na insuficiência da palavra. O riso e o choro, como formas rudimentares de comunicação, são os primeiros elos que estabelecemos com o mundo. Tanto um, quanto o outro, são maneiras de veicular emoções restritas apenas à espécie humana, muito embora outras espécies possam lacrimejar ou mostrar os dentes. Ao rir ou chorar, estabelecemos vínculos que independem da comunicação verbal ou de qualquer definição de identidade, credo ou nacionalidade. É nesse espaço da pré-linguagem, que a exposição busca refletir sobre aquilo que nos é mais essencial.

A partir dessa reflexão, os três artistas brasileiros trazem à exposição obras que discorrem sobre as linguagens do corpo. Cibelle Cavalli Bastos, que usualmente trabalha com performances vocais, apresenta nesta ocasião uma série de aquarelas realizadas entre 2008 e 2014. A artista, que viveu em Londres por quase quinze anos, volta à cidade e mostra uma parte de sua produção cuja toada é mais silenciosa e introspectiva. Daniel Albuquerque exibe uma composição de pequenas esculturas em cerâmica, todas elas obras inéditas, produzidas em 2016. Seus “quase-ossos, ou quase-imagens”, como descreve a curadora, são objetos que se instauram no limiar de contornos reconhecíveis, conservando uma delicada tensão no espaço. Lenora de Barros, artista e poeta conhecida por seu trabalho com poesia visual e videotextos, em atuação desde a década de 1970, participa da exposição com o poema ri-chora (1976), em nova versão verbivocovisual (expressão joyceana apropriada pela corrente da poesia concreta brasileira para denominar a produção de poemas em suportes e meios técnicos diversos). A artista vocaliza as palavras do poema, onomatopeias de riso e choro, cuja grafia é igual. Portanto, é na transformação de escrita em som, que a artista produz ora choro, ora riso, usando as mesmas palavras, lidas em voz alta. A interpretação de alegria ou tristeza não está dada nas onomatopeias grafadas no papel, mas brota do corpo e da voz de Lenora de Barros. O ri-chora funciona como uma trilha que embala, sem idioma, nem sotaque, essa exposição.

Discutir o que nos garante humanidade é uma forma de voltar a questões básicas da existência num momento em que decisões políticas perigosas colocam em risco a perpetuação da vida em nosso planeta. Em tempos complexos, trazer à tona a necessidade de reflexão acerca desses temas é igualmente fundamental às metodologias de trabalho empregadas, e é por acreditar nas alianças e no trabalho em conjunto como ferramentas vitais da atualidade, que a Frieze, o Camden Council e o Pivô embarcaram junto nesse projeto que conecta Londres e São Paulo.

Sobre a Frieze

A Frieze é uma companhia de mídia e eventos sobre cultura e arte contemporânea, que compreende quatro publicações, frieze magazine, frieze d/e, Frieze Masters Magazine e Frieze Week; três feiras de arte internacionais, Frieze London, Frieze New York e Frieze Masters; um programa de cursos e palestras na Frieze Academy, e frieze.com.

Sobre Camden Council

O Camden Council é um órgão público do distrito de Camden, em Londres, que entre diversos programas, estimula o desenvolvimento estratégico de atividades criativas tanto em espaços públicos, como nos próprios espaços expositivos que detém.