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Exposição
PIVÔ É A RUA
05/10 - 16/11/13

“A rua é o principal espaço de expressão, diálogo e confronto de discursos dissonantes. Sem edição, mediação ou curadoria, é a rua quem proporciona a insurgência das vozes ausentes da mídia hegemônica e da representação política. A cidade amanhece contando sempre novas histórias, outras versões da noite anterior, diferentes do que se viu na TV. Se não mais que isso, o que a poesia que se lê na ruas nos mostra é que tem mais gente do que a gente pensa se esforçando pra entender e tentando se expressar. A arte urbana é coletiva por natureza, é múltipla, imperfeita e indomesticável como a rua. Cada mínima intervenção altera e renova diariamente a composição da paisagem urbana. Há perguntas que só a rua faz, e respostas que só ali se encontram.”

(Cauê Novaes, poeta de parede do Coletivo Transverso)

 

A exposição “Pivô é a Rua” agrega no espaço a rua e a arte, transitando na linha ambígua entre “sem edição, mediação ou curadoria” como diz o poeta de parede do Coletivo Transverso, e o seu oposto, o editado, mediado e selecionado pela curadoria. A poesia está na fronteira destes opostos aparentes: o local da entropia externa da rua, por um lado, e a ordem de uma curadoria dentro de uma instituição, por outro. A paisagem proposta dentro e fora do Pivô, sugere obras que se alternam entre serem reconhecidamente obras de arte, e eventos que se passam não como performances institucionalizadas, mas como ação direta do cotidiano no espaço expositivo.

National Heritage – Do not park here! e Extinção do território do artista Lourival Cuquinha, são imagens fotográficas do espaço urbano que sofreram intervenções anônimas, ampliadas em camadas de asfalto. Uma mistura de foto-escultura: assim como a fotografia recorta um pedaço da realidade, aqui a escultura é um recorte físico e simbólico da rua. Já o Coletivo MUDA, que faz uma intervenção no espaço do Pivô e outra no Largo do Arouche ao ar livre, cria painéis que são como grafites urbanos, mas utilizando a azulejaria numa quase-escultura e ao mesmo tempo técnica que remete a uma tradição centenária no Brasil entre o artístico e o utilitário.

O imenso grafite de Matias Espacial Picón, que cobre o corredor em rampa do Pivô, como se fosse o mergulhão da avenida paulista nos anos 80: uma memória afetiva da cidade. E o reconhecimento de que o edifício Copan é em si uma cidade vertical que deve ser ocupada. Cauê, poeta de parede do Coletivo Transverso, desenvolve várias técnicas de ocupação urbana com a poesia, seja no tradicional stencil, o lambe-lambe e projetores-gambiarras, verdadeira tática de guerrilha urbana para interferir com poemas luminosos na arquitetura.

No espaço mais amplo, a cidade de São Paulo é recortada e recomposta em televisores pelo Vapor 324, como evidência de uma amplitude que vai muito além de onde o nosso corpo alcança numa megalópole. Além da questão da mobilidade urbana, tem a questão poética que me interrogo: Como dar conta do desejo de estar em tantos pontos da cidade ao mesmo tempo?

O lambe-lambe de Arto Lindsay é de fato o anúncio, ou melhor, a propaganda da performace Parada Pedra que o artista irá realizar em outra exposição – Panorama da curadora Lisette Lagnado – na galeria Nova Barão. A obra não está aqui no Pivô, mas o sentido de rua, lugar onde recebemos os anúncios e estímulos das atividades da cidade e que foi tristemente suprimido pelo Cidade Limpa, é ativado. E finalmente, a Ocupação orgânica – feira de produtos orgânicos organizada pela Casa Pinheiral – é o espaço dedicado ao consumo e comércio com a qualidade que todos buscamos nas ruas da cidade.

Não se trata aqui de mais uma tese sobre a crítica institucional, mas apenas a revelação do assombro de uma pessoa diante da paisagem do cotidiano, ao transitar entre a instituição que canoniza a arte e o dia a dia que passa diante dos olhos, do olfato, do toque e dos ouvidos ao caminhar pela rua da cidade. Um misto de exposição e evento, “Pivô é a Rua” tem a transitoriedade típica da rua e a permanência essencial da instituição.

Ricardo Sardenberg

 

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