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19:46 - 17/10/2023
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
Ana Mosquera

A Balada da Singularidade

-Ana Mosquera-

 

Em 2016 como parte do programa de imersão do Pivô Pesquisa em associação com a Fundação Cisneros eu convidada a vir a São Paulo por duas semanas. O programa não tem uma agenda específica, foi proposto a mim ter uma experiência em São Paulo e ficar hospedada no edifício Copan, um colosso modernista desenhado por Oscar Niemeyer nos anos 60, onde o Pivô é localizado.

Por alguns dias não puder evitar o passeio pelos corredores do Copan em busca de alguma forma de orientação espacial nessa complexa megalópoles. Meu primeiro instinto foi focar em centenas de imagens do Instagram marcadas como Edifício Copan. As imagens se repetiam aos montes como se a repetição fosse o princípio ativo que criou a diferença nessa repetição gigantesca.

Era uma ilusão esperar uma revelação da constituição social desse lugar por meio dessas imagens, mas o que eu sabia era que a forma como a informação era gerada tinha uma particularidade em comparação com experiências similares de análise que eu tive na Venezuela. Deleuze menciona em Diferença e Repetição que a repetição é mediação e síntese, nesse caso a repetição representou uma síntese dos processos de representação, mediação e consumo. Então, eu me interessei em estudar representação como um resultado da repetição.

Eu suponho que o Copan pode representar para qualquer novo visitante algo absoluto e temporário, um lugar capaz de se duplicar e se desdobrar; imerso na constante multiplicação dos seus próprios elementos. Porém, a repetição aqui não é uma generalização, nem semelhança, mas a confluência entre o ideal e o real. No Copan a vida imita representação enquanto ela espera ser representada novamente.

Neste ponto, decidi arquivar todas as imagens que eu encontrei no Instagram, no início elas parecem estar dentro de três categorias gerais: o terraço – a fachada – o estilo de vida; mas, novamente, após essas categorias, surgiram outras como aquelas que mostraram a forma de S da fachada, o Edifício Itália visto do terraço, a menina nua em uma cama olhando a vista para a cidade. A generalidade tornando-se constantemente singularidade pela repetição e a singularidade tornando-se novamente generalidade.

Fotografia como forma de representação aspira à conquista da diferença, à captura do imensurável, à transmissão do infinito, mas esse fator de repetição atuou no Copan como um agente livre que diversifica e multiplica tudo, criando padrões e grupos que, quando repetidos, mudam e criam novas singularidades.

Eu decidi então revisitar os lugares mais fotografados e os fotografei de novo, colocando as imagens em cima das tiradas do Instagram como referência que melhor representasse as categorias que eu encontrei.

A medida em que eu revisava e agrupava as imagens, alguns padrões emergiram, eles poderiam ser por similaridades de cor, conteúdo ou ângulo da foto. Eesses padrões se expressam por uma série de pontos brancos sobre a imagem. No entanto, estes padrões não permaneceram estáticos, sempre em mutação e transformado ao longo do tempo, então surgiu a necessidade de expressar a ideia de tempo de alguma forma.

Para este efeito, os padrões foram copiados em uma folha de música para formar uma balada automática, a repetição se torna ritmo ao longo do tempo, e semelhanças são ouvidas como grupos simultâneos de notas.

 

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